Os cavalos são considerados animais resistentes, fortes e robustos. No entanto, à medida que eles envelhecem podem acabar desencadeando algumas enfermidades, como por exemplo a Disfunção da Pars Intermedia da Pituitária (PPID), anteriormente conhecida como síndrome de Cushing, considerada a doença endócrina que mais acomete equídeos no mundo.
Se você é tutor de cavalos, é essencial entender essa doença para garantir a saúde e bem-estar do seu animal.
Mas o que vem a ser essa doença?
A Disfunção da Pars Intermedia da Pituitária é uma doença neurodegenerativa progressiva, complexa e multifatorial que pode acometer cavalos e pôneis mais velhos, principalmente naqueles acima de 15 anos. Embora a PPID possa ser vista ocasionalmente em animais com menos de 10 anos de idade, o aumento da idade é um fator de risco consistente.
Em um cavalo saudável, a dopamina produzida no hipotálamo faz o controle da secreção dos hormônios gerados pela hipófise, como o ACTH (hormônio adrenocorticotrófico). Mas, quando falamos de um cavalo com a doença, o hipotálamo diminui a produção de dopamina e, assim, seu papel regulador fica comprometido. A glândula pituitária então sofre hipertrofia, hiperplasia ou adenoma e passa a produzir quantidades muito maiores de ACTH, determinando o aparecimento dos sinais clínicos de maneira lenta e insidiosa, características estas que dificultam o diagnóstico e o tratamento precoces.
Quais são os sinais clínicos apresentados pelos cavalos?
- Laminite (inflamação das lâminas do casco e aumento da sensibilidade);
- Hipertricose (crescimento excessivo de pelos em todo o corpo) regional ou generalizada e/ou queda de pelo retardada (troca sazonal – verão/inverno);
- Perda de musculatura epaxial e abdômen arredondado (aparência “barriguda”);
- Maiores chances da ocorrência de infecções (como por exemplo: infecções cutâneas secundárias recorrentes, abscessos nos cascos, conjuntivite e sinusite) e úlceras de córnea (olho seco ou lesões/infecções recorrentes na camada mais externa do olho);
- Desmite/tendinite (causa claudicação nos membros anteriores e posteriores de cavalos atletas);
- Flacidez de tendão e ligamento suspensor (a frouxidão do tendão pode ser observada onde o boleto “cai” em direção ao solo ao suportar o peso);
- Resistência periférica à insulina.
O tutor poderá constatar também outras aparições físicas e comportamentais incomuns no cavalo:
- Mudança de atitude/letargia (mudança na personalidade e/ou falta de energia);
- Diminuição da performance (maior lentidão em relação ao normal)e/ou intolerância ao exercício (diminuição da capacidade no exercício físico);
- Sudorese anormal (pode ocorrer aumento ou diminuição da transpiração);
- Poliúria/polidipsia (aumento da micção/urina e/ou sede);
- Perda de peso e atrofia muscular da linha superior (cernelha proeminente, ombros “afundados” e/ou espinha proeminente);
- Adiposidade regional (depósitos de gordura podem aparecer ao longo da crista do pescoço, cabeça da cauda e na região acima dos olhos – supraorbital);
- Feridas de difícil cicatrização;
- Dentre outros.
Importante dizer que a Disfunção da Pars Intermedia da Pituitária não é infecciosa ou infectocontagiosa.
Como realizar o diagnóstico?
A primeira coisa a fazer é realizar uma consulta com um médico veterinário. Os distúrbios endócrinos equinos são reconhecidos há muitas décadas, contudo, apenas mais recentemente eles se tornaram foco de pesquisas significativas. Historicamente, o diagnóstico foi predominantemente baseado na idade e evidência de hipertricose (hirsutismo), o que pode ser adequado para detecção de estágios avançados da doença. No entanto, o diagnóstico clínico é mais desafiador nos estágios iniciais da doença, quando os sinais clássicos podem não ser evidentes ou em casos com sinais clínicos menos específicos.
Os exames laboratoriais que auxiliam no diagnóstico da PPID incluem testes basais, como concentrações plasmáticas de ACTH e hormônio estimulador de α-melanócitos (α-MSH) e testes dinâmicos, incluindo supressão de dexametasona durante a noite (ODST) e de estimulação do hormônio liberador de tireotropina (TRH). Dentre esses, a dosagem do ACTH é o mais usual para diagnosticar a PPID em cavalos.
Os exames laboratoriais são utilizados não apenas para auxiliar no diagnóstico da afecção, principalmente quando os sinais clínicos são sutis ou ambíguos, mas também para identificar outras doenças coexistentes, fornecer evidência clínica a proprietários que estejam relutantes em iniciar o tratamento e para o monitoramento da eficácia terapêutica do tratamento instituído nos animais acometidos. Cabe ressaltar, contudo, que um resultado negativo em qualquer exame não exclui a possibilidade do animal apresentar a doença.
Como realizar o tratamento?
O mesilato de pergolida é considerado o fármaco de eleição para o tratamento/controle dos sinais clínicos associados à Disfunção da Pars Intermedia da Pituitária (PPID) em cavalos e vem sendo utilizado com sucesso há mais de 30 anos, obtendo respostas clínicas e laboratoriais superiores às do cloridrato de ciproeptadina.
A pergolida é um potente agonista dos receptores de dopamina, que leva à regulação negativa da produção de peptídeos derivados da POMC, cujo aumento causa os sinais clínicos associados com a PPID. Os efeitos farmacodinâmicos da pergolida são rápidos, com redução estatisticamente significativa da concentração plasmática de ACTH 24 horas após o início do tratamento.
A dosagem hormonal e avaliação clínica são essenciais para ajustes de dose por toda a vida do animal, uma vez que o tratamento é vitalício!
Observação: recomenda-se a adição de ciproeptadina à terapia com pergolida, quando houver resposta limitada ou os testes endócrinos permanecerem anormais com a utilização isolada da pergolida. A ciproeptadina é um antagonista da serotonina com efeitos anti-histamínicos e antimuscarínicos que diminui a secreção de ACTH.
É importante ressaltar que somente um médico veterinário pode prescrever um plano de tratamento. Quanto antes a doença for gerida, maiores são as chances de melhoria e/ou controle dos sinais clínicos associados à PPID em cavalos e pôneis.
A nutrição adequada e o controle de peso são muito importantes para o sucesso do tratamento da PPID. Suplementos podem ser indicados por um médico veterinário, visando otimizar a imunidade do animal. Além disso, e não menos importante, o tutor deve se atentar para o correto manejo sanitário: vacinação e vermifugação.
*Caso o cavalo esteja com muito pelo no verão, a tosquia/tosa deverá ser realizada promovendo conforto térmico ao animal.
A Disfunção da Pars Intermedia da Pituitária (PPID) é uma doença neurodegenerativa comum em cavalos idosos, também conhecida como síndrome de Cushing. Ela é caracterizada por sinais como crescimento excessivo de pelos, perda de musculatura, e laminite. O diagnóstico envolve testes laboratoriais como dosagem de ACTH, e o tratamento padrão inclui o uso de mesilato de pergolida, ajustado ao longo da vida do cavalo. A gestão adequada, incluindo nutrição e manejo sanitário, é crucial para controlar a doença e melhorar a qualidade de vida dos equinos afetados.
Saiba mais sobre
O que é PPID em equinos? É uma doença neurodegenerativa que afeta a pituitária de cavalos, especialmente os mais velhos.
Quais os principais sintomas da PPID? Laminite, crescimento excessivo de pelos, perda de musculatura, e alterações comportamentais.
Como se diagnostica a PPID? Através de exames laboratoriais, como dosagem de ACTH e testes dinâmicos.
Qual é o tratamento padrão para PPID? O uso do mesilato de pergolida, que precisa de ajustes contínuos ao longo da vida do cavalo.
A PPID é uma doença contagiosa? Não, a PPID não é infecciosa nem contagiosa.
Por que é importante o manejo adequado no tratamento da PPID? Para melhorar a imunidade e controlar os sintomas, garantindo a saúde do animal.
Autores: Daniela Ravetta e Ulisses Stelmann
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