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Coração dos pets: cuide de quem te ama

O coração de quem te ama merece atenção especial

Os animais de estimação também podem vir a sofrer de males no coração. Assim, convidamos o Dr. Alexandre Bendas, cardiologista veterinário do Instituto de Especialidade em Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (IEMEV), para dar dicas sobre o cuidado do coração dos pets e também para quem quer se especializar nesta área.

Confira:

1) Quais são as doenças cardiológicas mais comuns em cães e gatos?

As doenças mais comuns são a endocardiose valvar, em cães de pequeno porte; a cardiomiopatia dilatada, nos cães de grande porte, e a cardiomiopatia hipertrófica nos felinos.

A endocardiose valvar, também conhecida como degeneração valvar, afeta mais frequentemente a válvula mitral. É mais comum em raças como o Poodle, Schnauzer Miniatura, Chihuahua, Fox Terrier, Cocker Spaniel, Cavalier King Charle Spaniel e Boston Terrier. Nem sempre os sinais clínicos são evidentes, mas quando perceptíveis são tosse seca, momentos de taquipnéia e cansaço fácil. Com a progressão da doença aparecem os quadros de edema pulmonar, perda de peso, tosse úmida, cianose de língua, apatia, síncope, entre outros.

As raças mais afetadas pela cardiomiopatia dilatada são Doberman, Boxer, São Bernardo e Afghan hounds, principalmente idosos. Ela ocorre quando o músculo cardíaco está fino, enfraquecido, e não se contrai corretamente, podendo levar à insuficiência cardíaca congestiva, com acúmulo de líquidos no pulmão, tórax, cavidade abdominal ou no tecido subcutâneo.

A cardiomiopatia hipertrófica é uma doença do músculo cardíaco (miocárdio) que acomete os gatos, principalmente das raças: Maine Coon, Ragdoll e Persa. Ela pode evoluir para retenção de líquido no pulmão (edema pulmonar) ou no tórax (efusão pleural), consequência de insuficiência cardíaca congestiva. Neste caso um dos sintomas principais é a dificuldade respiratória, acompanhada de redução na atividade e falta de apetite. Falta de coordenação ou paralisa de membros, também podem ser sintomas causados pela formação de coágulos dentro do coração que migraram pra artérias menores.

Outras doenças que podem ser encontradas são as doenças congênitas e a Dirofilariose (“verme do coração”), doença causada pelo nematódeo Dirofilaria immitis cuja prevalência vem aumentando em nosso país, principalmente no estado do Rio de Janeiro.

2) Quando o tutor deve procurar um cardiologista veterinário? Quais os sintomas mais comuns que indicam um possível problema?

Todos os animais que serão submetidos a procedimentos anestésicos, devem antes realizar avaliação cardiológica, independentemente da idade e do tipo de cirurgia (castração, tratamento periodontal e etc).

Nos cães o principal sinal clínico observado pelos tutores é a tosse, especialmente após atividade física, e em animais a partir de oito anos, idade na qual começam a apresentar a endocardiose valvar. Mas este sinal pode aparecer em qualquer idade já que os filhotes podem ser acometidos pelas doenças congênitas.

Nos felinos, o principal sinal observado está relacionado a mudanças no padrão respiratório, como por exemplo, aumento da frequência de movimentos respiratórios e respiração com boca aberta.

Outros sinais que podem ser observados em ambos são: cansaço, língua arroxeada (cianose), aumento do volume abdominal (ascite) e até mesmo desmaios.

3) Quais as principais dicas de prevenção de doenças cardiológicas?

Para maioria das doenças cardiológicas que acometem os cães e gatos não há prevenção, com exceção da Dirofilariose, que pode ser prevenida com administração de medicamentos mensais ou anuais.

O mais importante nas doenças cardíacas é o diagnóstico precoce, antes do desenvolvimento de insuficiência cardíaca congestiva, o que irá aumentar a sobrevida desses pacientes, assim como a sua qualidade de vida.

4) Quais as novidades nesta área da medicina veterinária?

 Grandes estudos vêm sendo conduzidos, principalmente na área das cirurgias cardíacas. Antigamente, na maioria das doenças congênitas por exemplo, só conseguíamos aumentar em poucos anos, ou até mesmo meses, a sobrevida dos filhotes acometidos.

Atualmente várias destas doenças, podem ser corrigidas cirurgicamente, como as estenoses valvares, por meio de cirurgias minimamente invasivas como as cirurgias por balão. Até mesmo a colocação de marca-passo cardíaco já se tornou uma realidade na medicina veterinária.

5) E qual sua opinião sobre o uso de medicamentos manipulados para tratamentos?

Sou grande adepto aos medicamentos manipulados, principalmente para os pacientes nos quais os tutores possuem dificuldade em administrar o medicamento. Através da manipulação dos princípios terapêuticos em biscoito com sabor esta tarefa se torna até prazerosa, tanto para o tutor quanto para o paciente.

Além disso, é mais fácil o controle da real quantidade de medicamento que esses pacientes estão recebendo, pois podemos fazer o cálculo preciso da dose em relação ao peso, o que muitas vezes se torna inviável quando usamos medicamentos comercialmente disponíveis.

Em alguns medicamentos comercialmente disponíveis não há sulco para quebra do comprimido, fazendo com que nunca saibamos a quantidade correta do princípio em cada uma das partes que foi dividida. E todos que já tiveram que partir um comprimido em quatro partes, por exemplo, sabem que um dos pedaços nunca sai com o mesmo tamanho que os outros.

6) A cardiologia veterinária vem evoluindo muito ao longo dos anos. Para os veterinários que desejam especializar-se nesta área, quais cursos e pós-graduações e você indicaria?

 Atualmente existem diversas instituições que oferecem cursos de pós-graduação Lato Sensu em Cardiologia Veterinária (ANCLIVEPA-SP, Universidade ANHEMBI MORUMBI, Instituto Quallitas) além de diversos cursos na área de cardiologia veterinária. No site da Sociedade Brasileira de Cardiologia Veterinária (www.sbcv.org.br) há bastante informação.

7) Quais os principais desafios desta especialidade veterinária?

 Um dos grandes desafios continua sendo a contribuição dos tutores com a continuidade do tratamento, já que as doenças cardíacas, na maioria das vezes, são crônicas e progressivas e muitas vezes requerem o acompanhamento multidisciplinar da equipe (nefrologista, nutricionista, endocrinologistas e clínicos). Além disso, há o comprometimento com a administração diária de medicamentos, que vão sendo acrescidos ao protocolo terapêutico conforme a progressão da doença.

Aproveite as dicas do Dr. Alexandre Bendas para cuidar melhor do coração do seu pet. E lembre-se de, em caso de necessidade, consultar sempre um especialista. Não brinque com a saúde do seu bicho de estimação.

Entrevista com:

Dr. Alexandre Bendas – CRMV-RJ 6418

Graduado em medicina veterinária e mestre em Clínica médica e Reprodução Animal pela Universidade Federal Fluminense. Realizou diversos cursos como ecocardiografia bidimensional, Doppler nível I w II, entre outros. Atua na área de cardiologia clínica desde 2000 e foi presidente da regional Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de cardiologia veterinária (SBCV) de 2012 a 2015. Atualmente é responsável pelo setor de cardiologia do Instituto de Especialidades em Medicina Veterinária (IEMEV) e doutorando em Clínica Médica e reprodução animal pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

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